sábado, 10 de janeiro de 2009

. . . da janela do ônibus
vejo o rio negro de pedra
(que num dia quente já foi mole)
. . . folhas secas correm entre carros
levadas pelos ventos invisíveis
para onde estão indo?
serão elas tristes?
ou serei eu?
Uma tristeza estranha
me acomete quando penso a folha
no seu vai e vém solitário
ou seria eu?
sua existência simples me atrai
Não fala, não enxerga, não percebe seu nós
. . . enquanto pensava no que dizer
com os olhos virados
fitando desfocados
as sensações e as palavras
Virei folha!
Não tive culpa!
fui vítima como todos os demais transeuntes
figurantes transfigurados
Vi que não falava
vi que não enxergava
nem percebia nós
Tamanha proximidade
. . . quando criança
sempre me atormentava indo a feira
carangueijos vivos amontoados
uns não tinham mais suas patas e garras
Minha imaginação me trans-f-ortava
àquela angustiante aparição
Mas não eram culpados!
Eram vítimas
foram levados pelos gigantes
Virei carangueijo!
. . .
De repente o tédio rompeu o devaneio
Mas por quem somos levados
quando em gaiolas lotadas
não olhamos nos olhos
sob pena de perdê-los?

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