quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

amores idos . . .

ventos, palavras, toques . . .

como não falar da virada do calendário? acreditar na sua correspondência com a natureza? verão? calor? sol, estrela noites quentes, suor, som de ventilador . . .

sou transportado numa lufada sonora para minha infância a cada ventilador que passo. férias, natal, planos para o próximo ano. mudanças em mim que hoje vistas causam vergonha, enquanto com os outros pequenos um carinho quase paterno.

mas e as mudanças de agora? arrastado pelos poentes (e nascentes) a praias onde estátuas observam estáticas o horizonte, sozinho me encontro. rios de sonhos correm suas águas. e onde eu estou? na margem? olhando meu reflexo cada mais irreconhecível no movimento . . .

são cacos que me compõem e que às vezes manuseio (eu?) mesmo . . .

mas e o ano novo? verei das margens ou molharei a cabeça nas águas sonhadas? chegaria inteiro no mar ou me perderia nas quedas e correntezas?

leves doses de certezas são necessárias pra não se perder em correntezas . . .

ah! que vire o calendário

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

se fosse inseto era casca.
calendário interior no exterior das coisas a volta
tudo reflete o dentro
e fora, só verso
reverso do ser
avesso de sempre
destino certo
traçado
desconhecido

"a ave sai do ovo. o ovo é o mundo. quem quiser nascer tem que destruir um mundo. a ave voa para deus" Demian, Hermann Hesse

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

trechos de fora e dentro . . .

Para criar, destruí-me; tanto me exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente. Sou a cena nua onde passam vários atores representando várias peças.
. . .
chefes industriais e comerciais, políticos, homens de guerra, idealistas religiosos e sociais, grandes poetas e grandes artistas, mulheres formosas, crianças que fazem o que querem. Manda que não sente. Vence quem pensa só o que precisa para vencer.
. . .
Um quietismo estético da vida, pelo qual consigamos que os insultos e as humilhações, que a vida e os viventes nos infligem, não cheguem a mais que a uma periferia desprezível da sensibilidade, ao recinto externo da alma consciente.

Bernardo Soares. Livro do Desassossego.
Fernando Pessoa

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

ali

ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece

Paulo Leminski

jaz em mim

quem cala
é silente
lentamente ou não
segue silenciando
não a si somente
mas a todos os entes
que diametralmente
são dias
simplesmente
sementes . . .

o silenciado natural
rente ao silêncio total
lá no abissal

. . . sementes
que brotam
resurgindo
de repente
com o som

o ser mente
e se mente
tanto faz
se jaz silente!