terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

para mim, acho que só cabe falar de mim, parece complicado, difícil, se expressar . . . até mesmo definir o que, como, para quem falar. isso me causa certas dores que compenso, como uma criança boba, através de um jogo em que pareço ser meu próprio adversário. não digo que aprender a jogar não seja interessante, exercitar certo ofício. mas como uma criança mimada não sei a hora de parar de jogar e chego a me perguntar se quero sempre ganhar. ah . . . às vezes gostaria mesmo é de perder e sentir os prazeres e desprazeres da inesperada derrota . . . e perco, mas na maioria dos casos não basta a derrota, ela é saudade, desejo, fome, sede . . . ah . . . quero água, quero beijo! mas vá parando por aí! vamos administrar pra nós mesmos esse jogo, afinal, não se esqueça que o sólido e as palavras machucam, pedras e ficções . . . a redução ao infinito das inventações, o enredo do jogo em que sou inimigo e observador, as salvações, criam um mundo irreal em que meia palavra mal dita ecoa e me assombra, corro . . . às vezes corro logo, outras permito tocar, falar, sorrir, mas o eco tarda mas não falha . . . a porta para o jogo de cumpadre mantenho ali . . . sou uma criança em muitos aspectos, mimada, boba, birrenta, acho até que sou pouco birrento, mas uma coisa sinto que faço: imagino. saio voluntariamente, covardemente, e as imaginações se emancipam, minhas peças, meus personagens trapaceiam com mais invenções. só me resta pensar, depois de um dia, mais um dia perdido nas ficções, minhas e alheias em mim mesmo . . . quis dizer não e não disse, ficção, quis dizer sim, um sim já demorado, e fico mudo com medo, parado, acuado como um inseto que se finge de morto . . . medo de quê? de mim mesmo, o meu jogador que acha que sabe e só ganha roubando com histórias em histórias, memórias, lembranças e projeções. meu dia me rendeu uma febre e um mal estar. a febre, no entanto, já estava em mim e o mal estar me acompanha quando chega o jogador, que violentamente vem com a falsa paz racional . . . me deixa! pena que durante todo o tempo é ele que eu tenho e me faz companhia, não sei, acho que não sei andar sozinho . . . shiii, ele vem chegando e hoje está fraco, frágil, doente, vem até mim me pedir um afago com palavras, uma cura. acho que se eu falasse mais o que penso, mesmo quando ele me diz que não é a hora nem o lugar, me libertaria se sua dependência. de repente ele deixaria de ficcionar que preciso dele . . . quando ficcionamos não fazemos o que realmente queremos e, no meu caso, o jogador é possessivo e carente . . . as coisas aqui dentro e lá fora ficam separadas por um vácuo, impossível a comunicação e me falta ar! Não quero mais falta de ar, mal estar. será que as palavras vão me ajudar? não sei, espero que sim, verdadeiramente . . .

2 comentários:

jaq. disse...

me ganhou já no começo no texto. ou desabafo. ou pensamento alto...

Alice disse...

Ganhar? Mas quem ganha é o jogador!! E esse jogo é preciso perder! A derrota da ficção é o triunfo da vida. Da cabeça pro papel é um começo. Palavra dá a liga. 23 não é 2 nem 3. Mesmo que 22. Quanta real-idade? Febre, fome, sede, mal... Real. Jogar fora o jogador falseador. E ser só. Nada falta.